Desencontros marcados seguidos por peças que vão se encaixando no quebra-cabeça da vida.
Vida que me traz o que quer, prega peças, quebro a cabeça, reconstituo-a. Até que aceito o que veio até mim e fica tudo bem. Então, começa tudo de novo. Chega gente nova, vai gente que não cabe mais. Tudo traz aprendizado. E aquele negócio de abrir mão do que não se tem, do desapego do que não existe. Abrir os olhos pra tudo o que está dentro, reconhecer e manter ou melhorar. Com a ajuda do etéreo, dos incensos, das músicas, dos amigos, dos inimigos, dos pêndulos e sins e nãos, mais um ano que começa. E vêm mais novidades, novelas e novelos pra desenrolar.
***
Alguém tão parecido com você. Mesmo. Oposto no signo e parecido por dentro. E eu que me achava única em tanta coisa! [rsrsrs]
20 de dezembro de 2007
17 de dezembro de 2007
Templo
Muitos dias passei lendo e colecionando histórias sentada no banco do lado da fonte colorida, perto da biblioteca e sob a luz do sol que faz arco-íris da água. O que surpreende é o mar de gente que passa pela entrada e muda de feição. Sabe aquela história que nossa alma tem cara própria? Então, é a alma que se liberta quando entra nesse lugar. Abre-se um mundo novo que ocupa os cinco sentidos. O cheiro da tinta e da poeira são minha madeleine e trazem todo tipo de lembrança. [madeleines não funcionam comigo. não ficam boas com café... acho que madeleines foram boas só pra termos Proust, rs] O olho se enche em todas as direções. A proibição do toque faz você sentir o proibido. Todo mundo falando baixinho, feito ladainha em respeito às mãos sagradas. E quando tem música, fica ainda melhor. O gosto de crescer os olhos, os ouvidos e a alma. Com todas as religiões, etnias, crenças e livres expressões, meu templo ecumênico, a Pinacoteca.
16 de dezembro de 2007
Sonhos, realidades, arquipélagos
O momento: tornar o sonho em realidade.
Ver, no sonho, as imagens: o que elas revelam e o que elas escondem.
Ver, na realidade, as pessoas: o que elas são e o que elas sentem.
A procura da ilha desconhecida: a chance de nos conhecermos e de nos redimirmos.
Ver, no sonho, as imagens: o que elas revelam e o que elas escondem.
Ver, na realidade, as pessoas: o que elas são e o que elas sentem.
A procura da ilha desconhecida: a chance de nos conhecermos e de nos redimirmos.
Vistos de fora
Procura no além-mar tesouros guardados na infância.
Pensa na vida que viveu e quer retomar a vida.
[Sempre é tempo eterno]
Vê na terra estrangeira a possibilidade de encontrar os verdadeiros tesouros.
Na figura paterna, o elo que se forma em buscas comuns.
[Ser é ser eterno]
Pensa na vida que viveu e quer retomar a vida.
[Sempre é tempo eterno]
Vê na terra estrangeira a possibilidade de encontrar os verdadeiros tesouros.
Na figura paterna, o elo que se forma em buscas comuns.
[Ser é ser eterno]
16 de outubro de 2007
Paperwall
No marco zero de toda cidade com mais de um milhão de habitantes tem um Paperwall.
Ele é feito do papel e seus parceiros. Papel de carta, papel de rascunho, papel de entrega, nota fiscal, papel de embrulhar carne, pão, peixe, papel jornal, papel-papel. Seus parceiros são o sangue, o verbo e a cola que mantém a estrutura firme.
Segundo as estatísticas, ele recebe mais de mil e quinhentas visitas por dia. As pessoas vão lá para reciclar seus sentimentos. Despejam sobre ele desamores, dores, rancores. Raramente despejam felicidade. Vão visitá-lo para obterem respostas e, quando isso não acontece, atiram pedras e choram nele. Algumas pedras conseguem transpassá-lo, tamanha a fúria do mundo. Apesar da vedação da cola, as lágrimas o incham e depois o encolhem, mudando sua estrutura.
Mas o Paperwall não se importa com as invasões na sua matéria. Até fica feliz, porque faz com que ele mude um pouco mais a cada dia. Os buracos são seus preferidos, pois faz com que as pessoas possam se ver e se reconhecer. Porque tanto a dor quanto o amor podem estar lá. Tudo se transforma. Quanto às lágrimas, ele diz que são necessárias. Está escrito em um dos jornais que o constitui, que lágrimas evitam a explosão interna de um ser humano – humano. Se você pensar bem, parece que tem um embasamento científico essa informação.
Hoje fui visitá-lo bem cedo. É impressionante o quanto de vida tem lá! Colei uma carta de amor do lado esquerdo e um desenho colorido do lado direito. Chorei um pouquinho, abri um buraquinho com uma agulha bem fininha e prometi voltar logo-logo pra contar as novidades.
16 de setembro de 2007
Um laboratório de experiências. Os olhos abertos, os ouvidos atentos, o ritmo do ar dos pulmões que acompanha o coração. Pernas que dão o movimento. Interrogações interiores. O que surpreende por ser simples. Um milésimo de segundo atrás é passado. O futuro não existe senão no presente. Sair do cotidiano e do descuido do mundo. Sempre alerta e aberta. Pro bem e pro mal; por bem ou por mal. A dualidade, o absoluto, o além, o sorriso e o gesto. O natural e a natureza. O amor e o perdão, o eterno-perene.
31 de agosto de 2007
Dos momentos. Dois momentos. Um momento, por favor.
Dos relacionamentos e das expectativas
a) Quando namorei um engenheiro, pensava que em uma de suas criações ele fosse pôr minhas iniciais em algum lugar do concreto fresco.
b) Quando namorei um poeta, queria reconhecer em suas poesias alguma coisa que tínhamos vivido.
c) Quando gostei de um artista plástico, queria ver alguma coisa de mim em suas criações.
Do que aconteceu
a) O engenheiro em questão trabalhava em um banco de investimentos.
b) O poeta me fez poesia no começo, depois foi investir em outras musas.
c) O artista plástico não se manifestou em nenhum momento.
De mim
As palavras precaução e cautela, o alerta cuidado!, não existem no meu dicionário. Tenho aquela coisa de me jogar. E então, crio expectativas baseadas no que eu faria para o outro. Insisto em relações que fazem com que eu aja como um cachorro, correndo atrás do rabo. Sem resposta, sem sinal, sem sair do lugar. Tá aí o problema. Em mim. Coisa mais egocêntrica.
Do agora
Vou mesmo dar um tempinho. E começar a investir na visão além do alcance.
a) Quando namorei um engenheiro, pensava que em uma de suas criações ele fosse pôr minhas iniciais em algum lugar do concreto fresco.
b) Quando namorei um poeta, queria reconhecer em suas poesias alguma coisa que tínhamos vivido.
c) Quando gostei de um artista plástico, queria ver alguma coisa de mim em suas criações.
Do que aconteceu
a) O engenheiro em questão trabalhava em um banco de investimentos.
b) O poeta me fez poesia no começo, depois foi investir em outras musas.
c) O artista plástico não se manifestou em nenhum momento.
De mim
As palavras precaução e cautela, o alerta cuidado!, não existem no meu dicionário. Tenho aquela coisa de me jogar. E então, crio expectativas baseadas no que eu faria para o outro. Insisto em relações que fazem com que eu aja como um cachorro, correndo atrás do rabo. Sem resposta, sem sinal, sem sair do lugar. Tá aí o problema. Em mim. Coisa mais egocêntrica.
Do agora
Vou mesmo dar um tempinho. E começar a investir na visão além do alcance.
23 de agosto de 2007
Sobre o amor
Li que Stendhal teorizou sobre o amor.
Ele disse que, para o amor nascer, três coisas são necessárias: admiração, esperança e uma dose de insegurança.
Concordo e simplifico. Para o amor nascer, a gente precisa permitir que ele nasça.
Ele disse que, para o amor nascer, três coisas são necessárias: admiração, esperança e uma dose de insegurança.
Concordo e simplifico. Para o amor nascer, a gente precisa permitir que ele nasça.
Agora, eu concordo e complico. Para permitir que ele nasça, a gente tem de se livrar de memórias e não comparar o que passou com o que passa. Ninguém é igual nem age da mesma maneira. Pagar pelo o que outras pessoas fizeram pra alguém é duro. Endurece. Dá vontade de xingar o mundo. Ter de abrir mão de quem você gosta por causa disso, pior ainda.
Não acabou nem a admiração, nem a dose de insegurança. A esperança também não, mas muito pouco depende dela. E de mim. Espero que esse nó na garganta que teima em aparecer e me faz chover me deixe melhor. Espero ouvir sua voz de novo, nova.
Peixe fora d'água
Confesso, sinto uma inveja futebolística: os jogadores de futebol têm o tempo certo pra jogar a toalha. Tá lá, determinado: 45 do primeiro tempo, 45 do segundo. É matemático, lógico, racional, como tem que ser um jogo.
Não nasci com o talento de chutar uma bola. Já caí uma vez tentando e minha segunda tentativa resultou em uma unha roxa. Daí me explicaram que se chuta a bola com a parte de dentro do pé, ou com a de fora. Tarde demais, minha unha já tinha até caído. Então, cada vez que via um jogo, me dava uma dor no pé que eu decidi ignorar a existência do futebol.
E estava aí meu erro.
Futebol é muito mais que um jogo, é um treino na arte do jogar agressivo, estratégico, racional, macho. Tudo bem prático, é ou não é, 8 ou 80. As regras não têm exceção dentro do tempo do jogo. Cartão amarelo [atenção!], cartão vermelho [expulsão!]. Num gostou, chuta ou empurra, grita e solta seu estoque de xingamentos. A hora predita de se jogar a toalha está lá, varia no máximo 5 minutos. E nos 45 do segundo tempo, na hora de se jogar a toalha, de tirar o time de campo, você vai ter o resultado, bom ou não para seu time. Resultado inflexível e binário da paixão nacional.
Esse era o aprendizado que eu teria adquirido. Mas eu preferi participar da natação, deu no que deu!
18 de agosto de 2007
Melhor que raio-x, só muitos olhos!
Gosto de ser encontrada por livros. Sem querer esse aí me encontrou e quem me deu viu que eu gostei tanto [mas tanto, mais ainda do que ele], que acabei o ganhando um presentão!
A menina de muitos olhos
Dia desses no parque
Vi uma moça de raro encanto.
Tinha tantos, tantos olhos
Que, confesso, fiquei meio tonto.
A sua beleza não era pouca
(Aliás, que tremenda gatinha!)
Quando notei que tinha boca,
Engatamos uma conversinha.
Falamos sobre ecologia,
Sobre suas aulas de poesia,
Sobre os óculos que usaria
Se um dia tivesse miopia.
Mas, de tudo, o que eu mais adoro
É seu olhar diversificado.
Se entretanto ela cai no choro,
Não tem quem não fique molhado.
São poemas sobre alguns personagens peculiares de Tim Burton, com os quais me identifico bastante [:o)]! O livro se chama O triste fim do pequeno menino ostra e outras histórias e foi publicado pela Girafinha.
A menina de muitos olhos
Dia desses no parque
Vi uma moça de raro encanto.
Tinha tantos, tantos olhos
Que, confesso, fiquei meio tonto.
A sua beleza não era pouca
(Aliás, que tremenda gatinha!)
Quando notei que tinha boca,
Engatamos uma conversinha.
Falamos sobre ecologia,
Sobre suas aulas de poesia,
Sobre os óculos que usaria
Se um dia tivesse miopia.
Mas, de tudo, o que eu mais adoro
É seu olhar diversificado.
Se entretanto ela cai no choro,
Não tem quem não fique molhado.
2 de agosto de 2007
Órion
Primeiro a tinha a três palmos do nariz. Capturava suas luzes nas retinas e transformava em histórias.
Depois preferi a distância e ela ficou registrada na memória, nas fotos, nos cartazes.
Agora, depois de olhar por tempos reproduções auto-colantes, a trago pra perto vez ou outra e, então, permito-me lembrar de onde vim.
Depois preferi a distância e ela ficou registrada na memória, nas fotos, nos cartazes.
Agora, depois de olhar por tempos reproduções auto-colantes, a trago pra perto vez ou outra e, então, permito-me lembrar de onde vim.
25 de julho de 2007
Um café e uma pista, por favor.
"– Desde quando você gosta de coffee?
– Desde que te conheci!
– Ai, bonito! Então vou cantar uma música da Gloria Gaynor!"
Seja lá o que café tenha a ver com Gloria Gaynor, começou a cantoria na mesa ao lado. Eu, tentando ler. O escritor, à minha frente, tentando escrever: duas canetas, um caderno e um maço de cigarros.
Impossível não prestar atenção nos rapazes, muita alegria e agudos fenomenais! Ele também está prestando atenção nos rapazes cantantes. Será que os transformará nos próximos personagens principais de um best-seller? Um deles tem toda a pinta de serial killer, dândi feito o protagonista de Frenesi. O outro pode ser a primeira vítima da série, porque lhe falta um quê de personalidade.
E o escritor não pára de escrever e está tentando ver o que estou lendo. Já sei! Vou dizer o que estou lendo, se ele deixar eu ler o que está escrevendo. Porque ele tem um sorriso pregado no rosto enquanto escreve. Troca justa. Vou lá! Chegou meu café. Minha curiosidade vai ter de esperar o café acabar.
Tarde demais, faltam 5 para as 9. A sessão de Uma verdade inconveniente vai começar. Ele fecha o caderno, levanta, pega as duas canetas, as põe no bolso junto ao maço de cigarro, me dirige um sorriso e se dirige à sala, acompanhado da alegria dos dois que agora não cantam, falam sobre La Dolce Vita:
"–Ai, não existem mais mulheres como Anita Ekberg! Que busto! [busto? educados... :o)]
–Nem homens como Marcello Mastroianni! Que...
[juntos] – Ah-rá-rá-rá-rá-rá-rá!"
[[O que será que eles sabem sobre o Marcello Mastroianni? :o)]]
– Desde que te conheci!
– Ai, bonito! Então vou cantar uma música da Gloria Gaynor!"
Seja lá o que café tenha a ver com Gloria Gaynor, começou a cantoria na mesa ao lado. Eu, tentando ler. O escritor, à minha frente, tentando escrever: duas canetas, um caderno e um maço de cigarros.
Impossível não prestar atenção nos rapazes, muita alegria e agudos fenomenais! Ele também está prestando atenção nos rapazes cantantes. Será que os transformará nos próximos personagens principais de um best-seller? Um deles tem toda a pinta de serial killer, dândi feito o protagonista de Frenesi. O outro pode ser a primeira vítima da série, porque lhe falta um quê de personalidade.
E o escritor não pára de escrever e está tentando ver o que estou lendo. Já sei! Vou dizer o que estou lendo, se ele deixar eu ler o que está escrevendo. Porque ele tem um sorriso pregado no rosto enquanto escreve. Troca justa. Vou lá! Chegou meu café. Minha curiosidade vai ter de esperar o café acabar.
Tarde demais, faltam 5 para as 9. A sessão de Uma verdade inconveniente vai começar. Ele fecha o caderno, levanta, pega as duas canetas, as põe no bolso junto ao maço de cigarro, me dirige um sorriso e se dirige à sala, acompanhado da alegria dos dois que agora não cantam, falam sobre La Dolce Vita:
"–Ai, não existem mais mulheres como Anita Ekberg! Que busto! [busto? educados... :o)]
–Nem homens como Marcello Mastroianni! Que...
[juntos] – Ah-rá-rá-rá-rá-rá-rá!"
[[O que será que eles sabem sobre o Marcello Mastroianni? :o)]]
13 de julho de 2007
Equilibrando sapos
Engolir sapos-boi é a nova modalidade da arte circense que desenvolvi.
Muito divertida, aliás. Tem vezes que incomoda um pouquinho.
O mais impressionante – e é aí que está a arte – é transformar o sapo-boi em girino.
O truque, e eu posso ensiná-lo a você [é bem complexo], o truque é: engolir o sapo, analisar textura, cor, consistência da carne, lubrificação da pele, agudos do coaxar. Então você respira fundo, toma um gole de água e pum! Sai o girininho, a resposta cautelosa ao mundo, acompanhado do que dizem ser a maior virtude humana: a paciência do início de tudo.
***
O treinamento
Enquanto evolui nessa modalidade circense, vai passar pelas seguintes fases.
- Primeiro você se indigna com os deuses, com o mundo e com tudo o que te acontece. Falta de paciência total.
- Depois, visto que tudo está legal para a maior parte das pessoas e só você sente indignação, preocupação, a indignação fica escondida e você começa a engolir os sapos-boi, pois põe-se no lugar do outro, entende, blá, blá, blá.
- Em certo momento você se cansa novamente e diz: "Nossa, como pude ter tanta paciência!", seguido por "Vão tomar suco de caju e vivam suas vidas!".
[Advirto: os pronunciamentos dessas fases são, todos, seguidos de profunda dor de garganta]
- Por último, você se percebe em um estado de letargia. "Ah! legal!", "Ah, que bom!", "Puxa, que coisa para se dizer, mas vamos deixar o girino viver!", são as frases mais recorrentes que saem da sua boca. Você pode achar isso preocupante, mas asseguro que os resultados são reconfortantes. A dor de garganta ameniza, devido à diferença de tamanho entre sapos-boi, sapos, pererecas e girinos.
Não que eu tenha comprovado muita coisa, pelo fato de o processo todo ser demorado, mas tenho de acreditar que é assim que as coisas fluem. "É assim que as coisas fluem, é assim que as coisas fluem, é assim que as coisas fluem..." [meu estágio atual, hehehe!]
25 de junho de 2007
Há alguns dias sem vontade de falar, sem ter o que dizer, amante do silêncio.
Arrumo a casa, jogo fora 5 sacolas cheias de papel. Entre os papéis poemas, cartas, desenhos, rabiscos de letras, notícias velhas.
Resolvidas as poucas pendências, fica a abertura. É tanta liberdade e não sei o que fazer com ela. Não quero perder tempo, mas tenho de saber respeitá-lo.
O silêncio, então, me pede pra dormir. Fecho os olhos e, com a cabeça doendo, as imagens começam a aparecer em vermelho e preto:
# Vista da cidade à noite com as luzes acesas, tudo virando até ficar de ponta cabeça.
# Disco voador que emana luz vermelha, homem alado que se transforma em luz , sobe e desce transformado em raio.
# Milhares de mãos pretas com unhas vermelhas que tentam alcançar alguma coisa [sabe-se lá o quê...].
Acordo sem conseguir abrir os olhos, com dor de cabeça e a cabeça a mil. Ganho um carinho nos cabelos, um beijo, um sorriso e tento retribuir com um sorriso tranqüilo. Mas não quero falar, não quero acordar, durmo de novo. Desta vez as imagens vêm coloridas:
# Casa de tijolos pintada de branco com grandes janelas de madeira. Entro na casa e ela se divide em partes: janela-porta-parede-telhado-chão.
# Vou direto à janela e, em cada vidro, aciono botões que abrem universos ilustrados. A família, os amigos, os amores, as pessoas que passaram rápido na minha vida, quem eu queria ter conhecido e os desconhecidos.
# Na porta os sentidos, na maçaneta a memória, na fechadura o amor.
# Nas paredes cenas do cotidiano, de anos, que não devem ser esquecidas.
# No telhado um galo português indicando as direções e os ventos. Sento ao lado dele e olho para o chão. Tudo é translúcido e no chão só vejo a base: a terra cor de tijolo.
Abro os olhos mais uma vez, sem a dor na cabeça, preciso ir embora. Ganho mais carinho nos cabelos, mais beijos, mais um sorriso.
Já esse sorriso é meu e vem do sentir o que o silêncio quis me lembrar: o quanto é bom ser livre e gostar de alguém.
Arrumo a casa, jogo fora 5 sacolas cheias de papel. Entre os papéis poemas, cartas, desenhos, rabiscos de letras, notícias velhas.
Resolvidas as poucas pendências, fica a abertura. É tanta liberdade e não sei o que fazer com ela. Não quero perder tempo, mas tenho de saber respeitá-lo.
O silêncio, então, me pede pra dormir. Fecho os olhos e, com a cabeça doendo, as imagens começam a aparecer em vermelho e preto:
# Vista da cidade à noite com as luzes acesas, tudo virando até ficar de ponta cabeça.
# Disco voador que emana luz vermelha, homem alado que se transforma em luz , sobe e desce transformado em raio.
# Milhares de mãos pretas com unhas vermelhas que tentam alcançar alguma coisa [sabe-se lá o quê...].
Acordo sem conseguir abrir os olhos, com dor de cabeça e a cabeça a mil. Ganho um carinho nos cabelos, um beijo, um sorriso e tento retribuir com um sorriso tranqüilo. Mas não quero falar, não quero acordar, durmo de novo. Desta vez as imagens vêm coloridas:
# Casa de tijolos pintada de branco com grandes janelas de madeira. Entro na casa e ela se divide em partes: janela-porta-parede-telhado-chão.
# Vou direto à janela e, em cada vidro, aciono botões que abrem universos ilustrados. A família, os amigos, os amores, as pessoas que passaram rápido na minha vida, quem eu queria ter conhecido e os desconhecidos.
# Na porta os sentidos, na maçaneta a memória, na fechadura o amor.
# Nas paredes cenas do cotidiano, de anos, que não devem ser esquecidas.
# No telhado um galo português indicando as direções e os ventos. Sento ao lado dele e olho para o chão. Tudo é translúcido e no chão só vejo a base: a terra cor de tijolo.
Abro os olhos mais uma vez, sem a dor na cabeça, preciso ir embora. Ganho mais carinho nos cabelos, mais beijos, mais um sorriso.
Já esse sorriso é meu e vem do sentir o que o silêncio quis me lembrar: o quanto é bom ser livre e gostar de alguém.
22 de junho de 2007
Sopros
O vento traz cheiro do novo, faz rodamoinho com ele e eu respiro.
vento com cheiro,
cheiro com novo,
novo com aroma,
aroma amor a.
vento com cheiro,
cheiro com novo,
novo com aroma,
aroma amor a.
11 de junho de 2007
Das cores, das vidas e da liberdade
Tanto faz se for branco, preto, roxo, amarelo, lilás ou toda a escala Pantone. Mas essa escala de cinza, esse por aí de alguns porcento de preto, não. Ausência de cor nada tem a ver com meia cor. Ou é colorido, ou não; ou é ausente, ou não. Do que eu gosto mesmo? De ouro sobre azul.
***
Saber [e aceitar] que o inesperado é o que mais acontece e que se vive andando sobre cordas bambas torna a vida viva. O tempo toma outra dimensão. Mas ligar o f***-se pra tudo o que me rodeia, sem deixar de me sentir responsável, é a coisa mais difícil que venho tentando fazer... [Ainda está nos 5% concluído [:o)]!]
***
Hoje a cidade estava mais nua, vertical, concreta e despovoada. Mais próximos dos meus olhos que habitualmente, pássaros voando em V.
***
Saber [e aceitar] que o inesperado é o que mais acontece e que se vive andando sobre cordas bambas torna a vida viva. O tempo toma outra dimensão. Mas ligar o f***-se pra tudo o que me rodeia, sem deixar de me sentir responsável, é a coisa mais difícil que venho tentando fazer... [Ainda está nos 5% concluído [:o)]!]
***
Hoje a cidade estava mais nua, vertical, concreta e despovoada. Mais próximos dos meus olhos que habitualmente, pássaros voando em V.
Os pássaros brincam, voam livres e acasalam. Seus peitos são brancos, suas asas marrons.
Pássaros de aço sinalizando ao alto que sobre as nuvens o céu é azul. Lá vem mais um daqueles de aço, lembrando os mundos que não conheço. Sobe, vira à esquerda, atravessa a nuvem.
Uma névoa sobre a cidade. Lembrança dos artifícios de ontem, que a deixaram colorida.
Vejo cinza, preto, azul e terracota. Verde bege e o crime de la crème.
1 de junho de 2007
Espelho
No congestionamento de sinais e pensamentos encontram-se velados desejos mútuos. O silêncio de um é o silêncio das partes. Com o sinal [pim-pim] descobre-se a angústia e cala. Palavras e aprendizados pra reparar os desencontros que o silêncio causa.
Azul esverdeado
O que há no mundo dos seus olhos
ora alegres, ora tristes, ora longe daqui?
Guardam mistérios, lembranças – posso ver:
olhos, memória, olhos – mundo.
O desenho do seu mundo
é único e visível apenas por quem
[embora você ria]
reconheça o raio-x do próprio olhar.
ora alegres, ora tristes, ora longe daqui?
Guardam mistérios, lembranças – posso ver:
olhos, memória, olhos – mundo.
O desenho do seu mundo
é único e visível apenas por quem
[embora você ria]
reconheça o raio-x do próprio olhar.
9 de maio de 2007
Co-incidências
Luzes, câmera, ação! Jogo de espelhos. Fiat lux. Clique.
A materialização do virtual. O conhecimento e o reconhecimento. A conversa boa, o olhar franco, o sorriso aberto. A paciência pra ouvir história repetida, a curiosidade de conhecer mais do outro. As horas fluindo como água do rio; vias de mãos duplas. A gentileza, a maturidade e o amigo simpático que chega de repente e logo vai.
Em carne e osso, dos melhores acontecimentos te conhecer, Glauco.
A materialização do virtual. O conhecimento e o reconhecimento. A conversa boa, o olhar franco, o sorriso aberto. A paciência pra ouvir história repetida, a curiosidade de conhecer mais do outro. As horas fluindo como água do rio; vias de mãos duplas. A gentileza, a maturidade e o amigo simpático que chega de repente e logo vai.
Em carne e osso, dos melhores acontecimentos te conhecer, Glauco.
3 de maio de 2007
Coisas do além
Aconteceu em uma praia, por volta das cinco horas da tarde. Após três dias de reclusão total, jovens mulheres, aproximadamente 28 anos, assistem a uma pelada na praia.
Olham pra lá, olham pra cá, aquele vai-e-vem de homens correndo atrás de uma gordinha, cena totalmente hipnotizante, a mente longe. Uma delas faz o sinal de alerta, cotovelada direita: opa! Surfista bonitão! Lançam aquele olhar 51, que pensam ser uma boa idéia.
Comentários sobre o desempenho do cidadão sobre as ondas decorreram por alguns minutos. A atenção se voltou novamente para os atletas [eram todos amigos, rs] e a gorducha. Os pensamentos das duas pareciam estar muito longe dali. De repente, cotovelada direita novamente: opa, olha lá! Esse aí é da sua tribo!
[Homem moreno, mais ou menos 30 e poucos anos, óculos de grau e segurando um livro.]
Era melhor ver de perto. Levantou, passou ao lado, checada de cima a baixo e pum! Soco no estômago! Não é possível! Pois é sim...
Foi assim que reconheci o Anônimo, em uma situação muito além da imaginação.
Olham pra lá, olham pra cá, aquele vai-e-vem de homens correndo atrás de uma gordinha, cena totalmente hipnotizante, a mente longe. Uma delas faz o sinal de alerta, cotovelada direita: opa! Surfista bonitão! Lançam aquele olhar 51, que pensam ser uma boa idéia.
Comentários sobre o desempenho do cidadão sobre as ondas decorreram por alguns minutos. A atenção se voltou novamente para os atletas [eram todos amigos, rs] e a gorducha. Os pensamentos das duas pareciam estar muito longe dali. De repente, cotovelada direita novamente: opa, olha lá! Esse aí é da sua tribo!
[Homem moreno, mais ou menos 30 e poucos anos, óculos de grau e segurando um livro.]
Era melhor ver de perto. Levantou, passou ao lado, checada de cima a baixo e pum! Soco no estômago! Não é possível! Pois é sim...
Foi assim que reconheci o Anônimo, em uma situação muito além da imaginação.
10 de abril de 2007
Tardo notícias, rs
Notícias aos que esperam pela continuação do último post, há meses: paciência é a única maneira de se obter resultados. Continuo tomando as lições de Jó, impressionante o texto sagrado!
Fora isso...
Estou viciada em Akira Kurosawa, influência direta do Anônimo. Chorei tanto naquele filme Madadayo, que vou te falar – lindo!
Retomei minhas antigas maratonas de cinema e, entre uma sessão e outra, minha bolsa deu um salto mortal triplo [ou era uma apresentação de brasileirinho?] e meu celular entrou literalmente pelo cano.
Mudei de emprego: da corporação ao corporativismo.
Ando saudosa das pessoas queridas: Andreinha, Edi, Sandra, Rô... Humpf! É, de você também [rs]!
Esse post vai ser só isso mesmo, uma fumacinha de sinal de vida. Encolhida no pouco tempo de escrever pra reiniciar nosso contato imediato de terceiro grau, mando daqui muitos cheiros de café torrado e moído na hora.
[[P.S.: Quem está na Ile-de-France lendo meu blog? Très chic! :o)]]
6 de fevereiro de 2007
Por agora
Tecla, tecla, tecla, sintoniza e despeja tudo. No papel, na tela, em espaço 10 por 1. Apita, vibra, brilha, frenético tum-tum. Mensagem, leitura, libertinagem. Arrepio na espinha, borboletas no estômago, memória.
Vai e volta, vai e volta, vai e volta. Em determinados períodos de tempo, volta, revolta e parte. Se a intensidade diminui, tenta e tenta e aumenta. Quase sempre digo dos meus espantos e apenas sorrio quando me provoca. E é assim. Toda vez. Até...
serão felizes ou tristes?, cheios de amor ou de ódio?, românticos ou selvagens?, os dias que virão?
Vai e volta, vai e volta, vai e volta. Em determinados períodos de tempo, volta, revolta e parte. Se a intensidade diminui, tenta e tenta e aumenta. Quase sempre digo dos meus espantos e apenas sorrio quando me provoca. E é assim. Toda vez. Até...
serão felizes ou tristes?, cheios de amor ou de ódio?, românticos ou selvagens?, os dias que virão?
1 de fevereiro de 2007
Tudo o que é apaixonante...
ANDO com uma vontade incontrolável de comer sagú de uva, chocolate branco com biscoitos pretos, pipoca com muita manteiga. E eu nem ligaria se um saguzinho ficasse perdido no queixo, meus dedos ficassem brancos de chocolate e minha boca estivesse com um saboroso gloss de manteiga.
COMO a casca-do-feijão-preto-da-feijoada presa no dente o dia inteiro e você rindo, rindo, rindo. Todo mundo prestou atenção na sua felicidade e esqueceu da casca-de-feijão-preto-da-feijoada [mas quando você pensa que perdeu um dente e vê o negócio preto, lamenta ter esquecido a escova de dentes [[também xinga um pouco as amigas ceguetas]] e, ao mesmo tempo, pensa que feijoada é a melhor comida do mundo].
QUER melhor alimento que aquele que traz felicidade pra todos?
...faz a gente parecer boba em algum momento, de alguma maneira...
COMO a casca-do-feijão-preto-da-feijoada presa no dente o dia inteiro e você rindo, rindo, rindo. Todo mundo prestou atenção na sua felicidade e esqueceu da casca-de-feijão-preto-da-feijoada [mas quando você pensa que perdeu um dente e vê o negócio preto, lamenta ter esquecido a escova de dentes [[também xinga um pouco as amigas ceguetas]] e, ao mesmo tempo, pensa que feijoada é a melhor comida do mundo].
QUER melhor alimento que aquele que traz felicidade pra todos?
...faz a gente parecer boba em algum momento, de alguma maneira...
4 de janeiro de 2007
31 para 1 – do tempo
à primeira vista
branco cinza azul branco areia
vermelho líquido
translúcido preto
paleta da alma
***
Das cores, dos mares, dos ventos e dos amores.
Dos começos, meios e fins.
Do finito, transitório, linha.
Do que não se pode fugir.
***
[ESCRITO DE MEMÓRIA]
1. Um pequeno depósito de incredulidade no fundo dos teus olhos.
2. Um breve estremecimento no movimento do coração (do meu coração).
3. A impressão de alguém olhando-te atrás de ti.
4. Uma voz familiar num sítio cheio de gente (que só tu ouves dentro de ti).
5. Um súbito silêncio entre as sílabas de certas palavras que fica depois a pairar perto dos lábios.
6. A ignorância de alguma coisa que ainda não sabes que não sabes.
7. Uma palavra só, aguardando, uma palavra que basta dizer ou não dizer, abrindo caminho entre ser e possibilidade.
8. O que não sou capaz de dizer dizendo-me.
9. Eu (um lugar vazio) para sempre; tu para sempre.
10. Outras duas pessoas de que outras duas pessoas se lembram.
11. Esse país estrangeiro, o tempo.
branco cinza azul branco areia
vermelho líquido
translúcido preto
paleta da alma
***
Das cores, dos mares, dos ventos e dos amores.
Dos começos, meios e fins.
Do finito, transitório, linha.
Do que não se pode fugir.
***
[ESCRITO DE MEMÓRIA]
1. Um pequeno depósito de incredulidade no fundo dos teus olhos.
2. Um breve estremecimento no movimento do coração (do meu coração).
3. A impressão de alguém olhando-te atrás de ti.
4. Uma voz familiar num sítio cheio de gente (que só tu ouves dentro de ti).
5. Um súbito silêncio entre as sílabas de certas palavras que fica depois a pairar perto dos lábios.
6. A ignorância de alguma coisa que ainda não sabes que não sabes.
7. Uma palavra só, aguardando, uma palavra que basta dizer ou não dizer, abrindo caminho entre ser e possibilidade.
8. O que não sou capaz de dizer dizendo-me.
9. Eu (um lugar vazio) para sempre; tu para sempre.
10. Outras duas pessoas de que outras duas pessoas se lembram.
11. Esse país estrangeiro, o tempo.
Manuel António Pina, Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança
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