13 de julho de 2007

Equilibrando sapos

Engolir sapos-boi é a nova modalidade da arte circense que desenvolvi.
Muito divertida, aliás. Tem vezes que incomoda um pouquinho.
O mais impressionante – e é aí que está a arte – é transformar o sapo-boi em girino.
O truque, e eu posso ensiná-lo a você [é bem complexo], o truque é: engolir o sapo, analisar textura, cor, consistência da carne, lubrificação da pele, agudos do coaxar. Então você respira fundo, toma um gole de água e pum! Sai o girininho, a resposta cautelosa ao mundo, acompanhado do que dizem ser a maior virtude humana: a paciência do início de tudo.
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O treinamento
Enquanto evolui nessa modalidade circense, vai passar pelas seguintes fases.
  • Primeiro você se indigna com os deuses, com o mundo e com tudo o que te acontece. Falta de paciência total.
  • Depois, visto que tudo está legal para a maior parte das pessoas e só você sente indignação, preocupação, a indignação fica escondida e você começa a engolir os sapos-boi, pois põe-se no lugar do outro, entende, blá, blá, blá.
  • Em certo momento você se cansa novamente e diz: "Nossa, como pude ter tanta paciência!", seguido por "Vão tomar suco de caju e vivam suas vidas!".


[Advirto: os pronunciamentos dessas fases são, todos, seguidos de profunda dor de garganta]

  • Por último, você se percebe em um estado de letargia. "Ah! legal!", "Ah, que bom!", "Puxa, que coisa para se dizer, mas vamos deixar o girino viver!", são as frases mais recorrentes que saem da sua boca. Você pode achar isso preocupante, mas asseguro que os resultados são reconfortantes. A dor de garganta ameniza, devido à diferença de tamanho entre sapos-boi, sapos, pererecas e girinos.

Não que eu tenha comprovado muita coisa, pelo fato de o processo todo ser demorado, mas tenho de acreditar que é assim que as coisas fluem. "É assim que as coisas fluem, é assim que as coisas fluem, é assim que as coisas fluem..." [meu estágio atual, hehehe!]