15 de março de 2009

O último filme que me fez chorar foi O Escafandro e a Borboleta. E a dor no estômago que me deu hoje fez eu me lembrar dele. Todos esses filmes de superação mexem comigo. Qualquer história do tipo “Gente que faz” me motiva a ser cada vez melhor, mais engajada, mais ativa, mais corajosa, mais qualquer coisa que seja tudo de melhor.

Quando era pequena assisti pelo menos umas 20 vezes ao filme da Nadia Comaneci, chorei todas elas e decidi que queria ser alguém importante, reconhecida pela superação dos obstáculos. Na escola praticava a ginástica olímpica; em casa, eu e minha prima fazíamos apresentações no colchão no chão, com paradas de mão, pontes, cambalhotas, o maior sucesso pra gente. Até o dia em que, depois de uma parada de mão, quase quebrei o pé. E desisti.

Com O Escafandro e a Borboleta, já pensei diferente. Putz, o cara pisca pra escrever um livro e eu, que posso piscar, falar, escrever e rebolar, fico mais parada que o trânsito em São Paulo, esperando uma pomba suicida bater no vidro do carro pra ter um lampejo de brilhantismo e escrever.

Daí, os botões ativaram: que engajamento é esse, tão efêmero quanto a duração do filme ou, pior, da vinheta? Essa minha meia-educação-católica / meia-educação-masoquista fez com que eu achasse por muito tempo na minha vida que o sofrimento é o que move, a falta de amor é o que faz ter assunto, a falta, o sofrer, a dor... [a dor de estômago resultante de um pacote de Calipso, shame on me! Hehehehe!]. Balela! [não baleia, :o)!] Mentira que é bom sofrer de amor. Mentira que pra ser criativo alguém precisa de drogas e um pé na bunda. O mundo está cheio de histórias tristes, pessoas reclamando de tudo e oportunidades escapando.

Bom mesmo, legal a valer, é ser simples e feliz. Mas não feliz-propaganda-de-margarina-absorvente-higiênico-serenus. Ou então feliz-mulheres-das-novelas-apaixonadas. Mas sim feliz-amar-e-ser-amada-sorrir-despreocupada-saber-que-pode-confiar-e-que-pra-sempre-é-hoje-todos-os-dias-agora. Com a família, com o amor-querido, com as amigas, com quem acabo de conhecer, até com a carcereira do refeitório do trabalho.

Talvez eu não deva escrever nem mesmo tentar ser ginasta [o que seria improvável na minha balzaqueanice e na minha forma física, rs], mas todos os dias meu engajamento está dentro do que é possível: me dedico a ser uma pessoa melhor, falho, me dedico novamente, falho, e vou pra onda do querer me desafiar nas esquisitices. [Agora, por exemplo, era para eu estar trabalhando num livro legal-porém-difícil; mas ouvir a voz do amor-querido me fez lembrar do blog e me fez querer escrever sobre o que encontrei, porque decidi, não por sorte...]

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Faz um tempo que descobri que é fator-isolante ser feliz nesse mundo de gente que busca a felicidade e prefere ser triste. Até as pessoas a quem amamos acham difícil acreditar que alguém possa ser feliz! Se googlarmos, acharemos 5.400.000 para livros sobre felicidade. Será que a felicidade – a simples, que faz você sorrir quando vê passarinhos verdes num céu cinza – foi experimentada em todas essas milhões de páginas?