15 de setembro de 2011

para carlos

a tradução que copiei daqui, achei legal:

uma coca-cola com você

é ainda melhor que uma viagem a San Sebastian, Irun, Hendaye, Biarritz, Bayonne
ou que ficar enjoado na Travessera de Gracia em Barcelona
em parte porque nessa camisa laranja você parece um São Sebastião melhor e mais feliz
em parte porque eu gosto tanto de você, em parte porque você gosta tanto de iogurte
em parte por causa das tulipas laranja fluorescente contra a casca branca das árvores
em parte pelo segredo que nos vem ao sorriso perto de gente e de estatuária
é difícil quando estou com você acreditar que existe alguma coisa tão parada
tão solene tão desagradável e definitiva como estatuária quando bem na frente delas
na luz quente de Nova York às quatro da tarde nós estamos indo e vindo
de um lado para o outro como a árvore respirando pelos olhos de seus nós

e a exposição de retratos parece não ter nenhum rosto, só tinta
de repente você se surpreende que alguém tenha se dado ao trabalho de pintá-los
olho pra você e prefiro de longe olhar para você do que para todos os retratos do mundo
exceto talvez às vezes o Cavaleiro Polonês que de qualquer maneira está no Frick
aonde graças a Deus você nunca foi de modo que eu posso ir junto com você a primeira vez
e isso de você se mover tão bonito mais ou menos dá conta do Futurismo
assim como em casa nunca penso no Nu Descendo a Escada ou
num ensaio em algum desenho de Leonardo ou Michelangelo que costumava me deslumbrar
e o que adianta aos Impressionistas tanta pesquisa
quando eles nunca encontraram a pessoa certa para ficar perto de uma árvore quando o sol baixava
ou por sinal Marino Marini que não escolheu o cavaleiro tão bem
quanto o cavalo acho que eles todos deixaram de ter uma experiência maravilhosa
que eu não vou desperdiçar por isso estou te contando

Frank O'Hara (mais alguém genial que morreu aos 40)

14 de setembro de 2011

proximidades

delicadeza
gentileza 
suavidade

ética
justiça
inteligência

humanidade
humano
ser


são proximidades tão longínquas do cotidiano. como faz falta viver em um mundo longe de pequenos poderes, em que o anonimato te permite ser quem é, sem julgamentos vis baseados em dogmas já muito desgastados. um mundo em que se expressar e ter opinião é sinônimo de arrogância e prepotência não é um mundo, é a definição de fascismo, ditadura, autoritarismo. viver em um filme em que um cientista quer voltar no tempo e ficar por lá, sem perspectivas futuras, com ideias passadas, provincianismos bestas, fofocas que mantêm imbecis e imbecilidades vivos, reconhecimentos por dígitos no banco, isso tudo sufoca, enforca, tira o ar. proximidades que devem ficar longe, manter a distância, recuar – por favor.