10 de outubro de 2008

II

Minha família é o resumo do mundo perto de mim.
Tem pra todos os gostos, humores, amores, ideiais, vocações, ilustrações.
Em todo o mundo prega-se a tolerância entre as diferenças.
No minimundo, precisa-se pregar um post-it lembrando que a tolerância é a melhor amiga da paciência e, só assim, alcança-se a paz mini-universal [a paz de espírito].
Esse mundo, o familiar, tem me mostrado que o silêncio é mesmo de ouro.
Que a política é o dia-a-dia. Ser direto nem sempre é bom. Gostos não são discutidos. Nem crenças, nem futebol e nem o porquê de ter votado em quem não tinha chance.
Mas chega uma hora que o resumo do mundo vira contação de histórias, passado passado a limpo, conversas ao redor do bule, todos sentados esparramados pela mesa depois do almoço. Nesse momento tudo é festa de encontro, história para dividir.
Minha família não é perfeita, como ninguém no mundo é.
Tem altos e baixos como a bolsa de valores, porém, dentro dela, o amor nunca é especulação.

7 de outubro de 2008

I

Nos serviços burocráticos dos carimbos, das assinaturas, dos prazos a cumprir, na solução de como se deve vender o peixe nascido às margens do Tietê, semi-morto, a palavra perdeu o sentido e se afogou no tempo. Eu me perdi dela por todo o outono e começo da primavera. Vi os ipês em flor, as flores caírem, as pitangueiras florescerem e até comi as pitangas. Já não sabia mais o que seria: se eu juntasse letras, como a reconheceria? De repente, ela chegou logo para ser dita, aos berros, em dupla, combinando imagem e idéia: alma-calma.