11 de agosto de 2006

Dias raros

Ontem recebi a notícia de que havia morrido voando de asa delta.
Morreu voando, como um passarinho.

Minha avó sempre pedia a Deus pra morrer como passarinho. E morreu dormindo, depois de fazer todos os docinhos da minha festa de aniversário.

Pessoas especiais morrem como os passarinhos.

Fazia tempo que a morte de alguém não me abalava. Porque eu sempre penso no que vem depois e acredito ser bem melhor. Mas a morte repentina choca. Porque eu esperava poder enrolar mais um pouquinho para encontrar você menos cansada, sem as olheiras... Infelizmente, os clichês são certeiros: carpe diem, sempre [que possível]. Ainda bem que você seguia esse daí.

Nosso encontro fica para o não-tempo e, enquanto isso, acendo uns incensos e rezo para as almas.
Queria ter nascido nos anos 30, andar a pé no centro da cidade, ir ao cinema de luvas brancas, vestido de veludo verde petróleo e bolsa de mão. Com um lencinho branco, tiraria o suor da testa para fazer charme a um rapaz moreno e elegante. Num fim de tarde, pegaria o bondinho com ele e ele me acompanharia até o portão de minha casa, me beijaria a face e espararíamos as surpresas do dia seguinte.