17 de março de 2006

Reprises

E é parte da história. Comédia dos erros, Divina comédia, Comédia da vida privada. Reprises.
Retomar, reviver, relembrar, repetição. Meu medo é mesmo deixar para reencarnação.
Karma, carma, calma.
E quem explica: você encontra o cara, oi, oi, tudo bem?, tudo e você? Na sua cabeça: oba, nada, ufa! Segundos depois: tremor da cabeça aos pés, perna mole, mal de Parkinson [?] e derruba a água. Porque no exato momento em que você está com dois copos d'água nas mãos, o dito cujo, que te beijou, te agarrou e nunca mais tocou no assunto, aparece. E você com dois copos d'água nas mãos.
E o tempo passa, o silêncio continua. Você já vê o cara como covarde. Bate os olhos nele: nada. O ufa, já tá passado! Ele senta à mesa, na sua frente. Nada. E você está morrendo de fome. E dá risada, pensando, nada! Pega o garfo. Seu braço vai em direção à sua boca: pára no meio do caminho. Segunda tentativa: repetição. Respiração: um, dois, três, quatro, cinco. Vamos lá! Braço travado na mesma altura, o garfo volta para o prato, você perde a fome. E como explicar o já tá passado? Como afirmar o já tá passado?
Então surge a quebra de silêncio. Porque silêncio mal resolvido é a pior espécie. Pergunta direta. Resposta curta e grossa. Falar o quê? Deixa estar. Tá chovendo muito, né? É... E na hora em que você ouve isso, ou lê, adjetiva o cara de novo e esquece.
No dia seguinte encontra o cara, bate o olho nele e não tem vontade de sorrir. Você sorri sempre, até pro cachorro sarnento da sarjeta. Dessa vez não tem vontade de sorrir, abaixa a cabeça. Olha de rabo-de -olho e vê que ele comenta alguma coisa com a amiga do lado e em seguida sorri pra você. E você retribui o sorriso, com um sorriso amarelo acompanhado de um quase-secreto vai se ferrar! E logo pensa: mas por quê? Então, o que parecia estar resolvido na sua cabeça não está. E você não se entende: sabe que não gosta do cara, mas ele mexe com você profundamente. E não é química, tesão, afinidade ideológica. É mesmo neurológico. Então é químico, fisiológico? Contraditório.
Para saber a explicação deste fenômeno, você repensa sua vida. E o que você menos quer é repensar. Não acha respostas, não vê saídas, pede ajuda superior. E eles te dizem: não temos resposta. Mas é kármico, cármico, calma, vai passar. E você aceita a explicação. Por que você não quer deixar para a próxima encarnação, quer?

2 comentários:

Anônimo disse...

Por quê? Sempre essa é a pergunta. Nesta situação, repetida, ganha em força. Então, se repete como mantra. Por quê? Por quê? Quê? O quê? Como é o nome disso? Nome disso pode ser limite. E v escreve assim para desenhar o limite. I. é, para desenhar os limites e os funde num ferro de dentro. E volta ao por quê. Com perspectiva igual a verdade. Sempre pautada por sua condição humana. Apesar de, é bonito.

André Fernandes

Anônimo disse...

Respiro: apesar de é uma forma de pensar. Um raciocínio. Um processo. Um caminho. E aos por quês não há resposta mesmo. Não tem solução, a vida. Nem conclusão alguma que valha. É, me alinho ao Bandeira quando diz: "E o que vejo é o beco". Não tem (tenho) saída. Podia mesmo ver de outra forma. Mas digo, daqui não dá pra ver nada, a maré encheu. Deixa pra lá. Vou beber água.

André Fernandes