5 de março de 2010

A centésima divagação

A incerteza poderia me desesperar, mas ela me animava a descobrir o incerto, eterno mutante.

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Eu digo que vou morrer com 120 anos. E vou, a incerteza me dá provas de que tudo pode acontecer. Mas tem vezes que me pego a pensar se falo isso para justificar minha preguiça do fazer hoje, já que tenho 89 anos à minha frente. O que imagino que faria no futuro? Eu me atrasaria 15 minutos, incertamente, para manter a minha infâmia. Também daria um beijo no meu amor, logo cedinho, e desejaria um bom-dia, bom trabalho e declararia meu amor. Porque meu amor vai viver até os 122, tenho a incerteza. Tomaria muitas xícaras de café, incertamente. O estômago e o café são companheiros, não inimigos. [foram feitos um para o outro.] Bateria muito papo furado, falaria bem dos outros, falaria mal dos outros, me culparia pelo último fato e prometeria me calar mais. Arrumaria a cama, escovaria os dentes[5 vezes] e tomaria banho [2 vezes]. Se eu pudesse, desinventaria o computador. Com todas as minhas forças, o destruiria até ele virar pó e sumir no espaço. Eu deixaria para lavar o carro num dia melhor, porque não há dia melhor para lavar o carro. Eu trabalharia menos do que gostaria e leria mais do que poderia. A televisão me tiraria algumas horas de leitura, porque a televisão me ensina. Eu também tentaria adivinhar quem está ligando antes de atender o telefone. Quase sempre acerto e me acho meio bruxa por isso. [a verdade é que poucas pessoas me ligam.] Eu ouviria a rádio Eldorado para descobrir um músico e uma música novos. Café da manhã, almoço, jantar e uns beliscões no meio-tempo, sagrados. Eu viraria japonesiana, com uma alimentação oriental rigorosa. Mas o pão ainda seria alimento essencial e sagrado. O exercício físico seria ainda mais esporádico com o passar do tempo. Eu andaria de bicicleta no fim de semana, como fazia com meus 12 anos. O cinema, o contato com os amigos, as preparações na cozinha, os elogios, tudo seria mais constante.

Mas a muito menos de 89 anos nenhum olhar de hoje será o mesmo. Não haverá ao meu redor as pessoas que vejo hoje, as memórias que vejo hoje, a paisagem que vejo hoje. Nenhum ver pode ser melhor vervido que o de hoje, por mais clichê, repetido e pouco interiorizado que seja. Heloisa Helena de Almeida Beraldo Assis, viveu bem e com muita sorte seus 31 anos, 2 meses, 27 dias e 1 hora exata. Amanhã voltará a vervida com a sorte e a incerteza dos seus 31 anos, 2 meses, 28 dias e algumas horas inexatas, pois vai acordar mais tarde, sem despertador.

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Centésimo post, viva!
Obrigada - sempre - pelos comentários!
Agora que o ano já está passando ainda mais rápido, feliz 2010!

6 comentários:

Sílvia disse...

Helô! Que bom que está de volta... é sempre muito bom "ouvi-la".
Saudades, querida! bjão

helô beraldo disse...

Síl, que bom te "ver" por aqui! Precisamos nos ver sem as aspas, estou com saudades também!
Bjs!

Angela Cristina disse...

Querida irmã!
Incertezas à parte, vamos viver firmemente bem esta vida, que mesmo que vivamos 120 anos ou mais, ainda será curta! Sendo esta vida única ( mesmo que haja outras encarnações, outras vidas)que esta seja, na medida do possível, bem vivida junto aos nossos parentes, amigos e pessoas que convivemos diariamente! Que bom que estamos mais perto uma da outra!
Beijão
Angê

John disse...

Hello, Helô! Espero que, na parte das certezas, também estejam mais outras centenas de posts :-) Beijo

helô beraldo disse...

Ange: Que lindo seu comentário! Adorei! :o)

John:!!! Puxa, que legal que você passa por aqui! Sempre passo pelo seu blog, acabo conhecendo um músico e uma música novos e acabo virando fã! Obrigada pelas apresentações, pelos comentários e pelos seus textos cheio de poesia!

Angela disse...

OBRIGADA Helô!!
Seus textos me fazem refletir...e muito!
Beijão!
Ange